Filósofos mirins
Crianças, jovens e adultos de duas escolas de Duque de Caxias encontraram na filosofia uma maneira de fugir da rotina cansativa das aulas. A iniciativa propicia aos participantes um espaço de questionamento e reflexão.
Por: Ana Carolina Correia
Publicado em 25/08/2011 | Atualizado em 25/08/2011
Alunos do sétimo ano de escola municipal de Duque de Caxias discutem filosofia em oficina na Uerj. (foto: Ana Carolina Correia)
Em Caxias, a filosofia en-caixa? É com essa pergunta que o filósofo e professor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Walter Omar Kohan, junto a seu grupo do Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância (Nefi), batizou o projeto que, desde 2007, leva a filosofia para as escolas municipais Joaquim da Silva Peçanha e Pedro Rodrigues do Carmo, ambas em Duque de Caxias.
A filosofia é praticada dentro e fora do horário escolar. Apesar de não serem obrigatórias, as aulas já conquistaram vários seguidores. O entusiasmo é tanto que os próprios alunos marcam encontros independentes, em outros espaços e horários, para debate e reflexão. A iniciativa visa também formar professores que possam dar continuidade ao trabalho desenvolvido com as turmas.
Na contramão do ensino clássico da disciplina nas escolas, que se tornou obrigatório para o Ensino Médio em 2007, o projeto não procura revisar a obra de grandes pensadores ou ensinar teorias filosóficas, mas promover o pensamento como ferramenta de autoconhecimento e de entendimento do mundo. “A ideia é criar um espaço propício para os alunos pensarem sobre o que pensam e sobre a vida que levam”, afirma Kohan.
Para o professor, as aulas são um espaço de interação e discussão saudável para todos. Elas permitem a fuga da rotina pesada e maçante do dia a dia escolar e abrem espaço para uma forma lúdica e leve de trabalhar.
Com textos – de filosofia e literatura – e o questionamento como principais ferramentas de trabalho, o projeto também estimula o pensamento crítico dos jovens filósofos. “É muito importante que na filosofia se façam muitas perguntas, que se problematize o que se pensa e o que se lê e que se encontre um espaço para escutar e sentir o que os outros pensam”, ressalta.
O projeto inclui também estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), segundo Kohan, um desafio ainda maior a ser enfrentado. “Com eles é um processo mais difícil, porque nós, adultos de uma forma geral, temos ideias mais prontas, então estranhamos um pouco esse espaço, que busca desconstruir o que pensamos mais do que passar ideias prontas.”
Colhendo os frutos
O impacto do projeto nos estudantes é visível e vai muito além da filosofia; eles incorporaram as lições em suas vidas pessoais e acadêmicas.
Segundo a professora de português do sétimo ano da Escola Joaquim da Silva Peçanha, Edna Olímpia, a evolução é inspiradora. Para ela, cada aula é um desafio, já que eles se tornaram mais questionadores e participativos. “Eles modificaram e me modificaram também”, disse.
Os estudantes também se mostram empolgados com o modo pelo qual a filosofia tem se infiltrado em suas vidas. Durante uma oficina realizada este mês (10/8) no Ateliê de Infância e Filosofia da Uerj, alunos e professoras da escola conversaram com Laura Agratti, professora da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, sobre a importância e a função do desejo para o ser humano.
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