Você é X, seu filho é Y
Surge uma geração que consegue fazer o dever de casa enquanto ouve o iPod, tecla no MSN, aguarda um download e troca torpedos. Para essas mentes multitarefa, a escola precisa oferecer mais do que giz e saliva do professor. Aqui, os caminhos para educar (em casa – isso é com você – e na escola) jovens e crianças que aprenderam o sentido de play antes de montar uma frase inteira em português
Provavelmente, você se lembra de quando seus pais lhe davam broncas carinhosas perguntando como conseguia estudar com os fones do walkman no ouvido. Agora, veja a si mesma observando seus filhos sem compreender como eles conseguem fazer a lição de casa, acessar o Orkut, ouvir música no iPod, fazer um download, falar ao celular e ver TV – tudo ao mesmo tempo. Algo mudou, não é? No admirável mundo novo da tecnologia, uma geração diferente de jovens surgiu, com muitas características com as quais pais e educadores estão, a duras penas, aprendendo a lidar. Estamos diante da geração Y. Esse foi o termo encontrado por pesquisadores e profissionais da área de recursos humanos para tentar entender o comportamento de crianças e jovens multitarefa, ou seja, que fazem muitas coisas simultaneamente, são colaborativos, ágeis, compartilham ideias com facilidade e mostram-se acostumados a um ambiente de mudanças e de incertezas. A expressão surgiu na década de 1990, mas vem se popularizando. “Enquanto os adultos com mais de 30 anos nasceram no mundo analógico, a geração Y cresceu imersa nas infovias, com acesso ilimitado a imagens, sons e outros recursos de comunicação”, afirma a pesquisadora Cristina Cano, estudiosa das diferenças geracionais, da Universidade de Barcelona, na Espanha. Segundo ela, há um gap com o qual precisamos aprender a conviver, pois somos verdadeiros imigrantes nesse mundo. Os adultos representam a geração conhecida como X, pós-baby boom (a grande explosão populacional do pós-guerra). De maneira geral, são pessoas que brincaram na rua e têm uma relação no máximo amigável com o computador. Os filhos – daí o Y – já conheciam o play e o stop aos 3 anos. E há quem já fale em geração Z para incorporar outros aspectos, como a disseminação e a sofisticação crescente dos games. Não se trata apenas de ter mais brinquedinhos eletrônicos à mão. Há muitas mudanças que não devem ser desprezadas. Segundo os especialistas, entre as características dessas novas gerações está a organização em comunidades de valores – isso explica a explosão de sites de relacionamento, como Orkut, Facebook e MSN. Na era digital, esses grupos se multiplicam exponencialmente, influindo no modo como consomem, formam juízos de valor e se informam. Nós confiávamos nas enciclopédias, enquanto eles recorrem a redes in termináveis para descobrir o que querem e para expressar suas preferências, seus desejos e suas posições.
Além dessa vida comunitária intensa, há diversos pontos em comum entre os jovens de hoje, segundo Renato Trindade, presidente da Bridge Research, empresa de pesquisa que estuda o comportamento das novas gerações, entre outros assuntos. “Eles clamam por feedback e resultados imediatos. Se não percebem que estão evoluindo, têm dificuldade em continuar insistindo”, observa. No mundo do trabalho, essa carapuça serve para jovens que trocam de emprego a cada três meses. Na sala de aula, questionam o tempo todo se o que estão aprendendo vai adiantar para alguma coisa. Para entender e educar essa geração, é preciso saber que são bastante diferentes de nós. Mais do que nunca, os pais devem encontrar nas escolas bons parceiros para lidar com essa nova realidade. A escolha da escola e o acompanhamento do aprendizado tornam-se especialmente importantes nesse contexto – sem esquecer que a presença da família continua imprescindível.
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