ENTREVISTA Celso Gutfreind |
Ano VIII - Nº 23 - Limites na primeira infância - Abril 2010 / Junho 2010
Entrevista
Celso Gutfreind
O limite tem um lugar essencial na formação infantil, pois permite que as crianças aprendam a lidar com a diferença, a assumir a si próprias e suas limitações e a acolher aos outros. É assim que aprendemos uma questão essencial para nossa época: não somos onipotentes. Essa é a visão de Celso Gutfreind, psiquiatra da infância e da adolescência e escritor. Como escritor, ele tem diversos livros publicados, entre poesia e histórias infantis, com textos traduzidos para espanhol, francês e inglês. Como médico, especializou-se em Medicina Geral Comunitária, Psiquiatria e Psiquiatria Infantil. Realizou na França mestrado e doutorado em Psicologia Clínica e pós-doutorado em Psiquiatria Infantil no grupo hospitalar Pitié-Salpetrière da Universidade Paris VI. Atualmente, Celso Gutfreind é professor da Faculdade de Medicina e do mestrado em Saúde Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martins. Nesta entrevista, ele fala sobre a difícil tarefa de formar a noção de limite no universo infantil numa sociedade em que o princípio do prazer exacerbado não conhece limites. Sonia Montaño
O que de fato acontece nos primeiros seis anos
de vida?
Essa etapa é decisiva do ponto de vista físico, neurológico e emocional. É nessa idade que se desenvolvem o cérebro, o coração, os rins, o sistema endócrino, a capacidade de sentir, de criar, de inventar, de subjetivar, de abstrair. Pontos fundamentais na capacidade de agir e pensar.
Quando a noção de limites começa a aparecer na vida da criança?
Há 30 anos, seria possível dizer: quando ela deixa de ser bebê, em torno de 2, 3 anos. Atualmente, com o avanço do conhecimento sobre os bebês, responder a tal pergunta tornou-se mais difícil. No entanto, a partir das observações das interações precoces entre pais e bebês, podemos pensar que ainda no primeiro semestre de vida, ou seja, no bebezinho, há indícios de que processos em busca de autonomia e diferenciação já estão sendo construídos, havendo, portanto, o que podemos considerar esboços de uma noção de limites. O fato de que uma noção absoluta não existe nem na vida adulta permite-nos confirmar que essa hipótese faz algum sentido.
Nosso contexto cultural apresenta dificuldades específicas à noção de limite?
Aspectos culturais influenciam em tudo. Uma cultura que estimula o consumo de carne demais ou que estimula mulheres magras demais influencia tanto a saúde quanto a vida emocional das pessoas. Os aspectos culturais sempre são positivos e negativos. A noção de limites envolve o longo e sempre inacabado caminho do princípio do prazer ao princípio de realidade. O ponto mais importante de uma sociedade narcicista como a nossa é que ela tem menos limites. O princípio de prazer leva a buscar tudo o que se quer e o de realidade leva a aceitar que há limites na ambição, no ganho, no combate da dor. As pessoas costumam medicar-se para qualquer dor física ou emocional, por exemplo. É nesse contexto que se dá a incapacidade de criar limites para as crianças.
Como ocorre o processo de assimilação do limite por parte da criança?
Ocorre no contexto de uma relação com o adulto. É no fundo desse encontro, com todas as qualidades e defeitos, que a noção vai sendo transmitida, assimilada, transformada, adquirida. Essas noções podem ser aprofundadas se observamos que o encontro de um bebê com um adulto tem aspectos concretos ou reais, afetivos, fantasmáticos e culturais.
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Leia a entrevista completa pelo site
http://www.revistapatio.com.br
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