O início de um hábito é como um fio fino e quase invisível. Mas cada vez que repetimos o mesmo ato estamos acrescentando mais um fio, até que o hábito se torna uma corda espessa que prende nossos pensamentos e ações.
Orion Swett Marden
Entrevista com Maria Tereza Peres, diretora do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária(Cedac).
Fonte: Revista
JUL/AGO/SET SUPER ESCOLA
Registrarei alguns trechos da entrevista...
Maria Tereza Peres é diretora do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac). Educadora há mais de 30 anos, ela coordenou o estudo “As emoções e os valores dos professores brasileiros”, encomendado pela Fundação SM e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). O estudo apresenta as percepções dos docentes das redes pública e particular em relação à própria profissão. Em entrevista à Super Escola, Maria Tereza fala sobre a importância e as conclusões mais importantes da pesquisa, que
envolveu 3.584 professores de 89 escolas do Ceará, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
Super Escola: Por que conhecer e entender as emoções e os valores dos professores é tão importante?
Maria Tereza Peres: Emoções e valores, como confiança e auto-estima, constituem a base da
identidade profissional. Ambos os sentimentos supõem interiorizar objetivos, saber defendê-los, lidar com tranqüilidade com alunos e pais, sentir-se capaz de enfrentar novos desafios e
situações problemáticas, assim como reconhecer os próprios erros e aceitar sem angústia os
processos de transformação. A confiança no próprio trabalho, expressa na auto-estima profissional, reduz a ansiedade do professor e permite que ele enfrente riscos de forma mais tranqüila. Já a perda de confiança prejudica as relações interpessoais – inerentes à prática do ensino, em que as emoções estão sempre presentes: aborrecimento; conquistas; ansiedade;
preocupação; tristeza; frustrações; alegria... Além disso, mudanças intensas vêm acontecendo
na sociedade. A violência, a marginalização de determinados grupos, as desigualdades sociais, a falta de recursos familiares e pessoais contribuem para que as relações dentro da escola sejam ainda mais conflituosas, dificultando o diálogo e a negociação de soluções. Por isso a pesquisa enfocou a história pessoal e profissional dos professores, suas crenças e atitudes, suas condições de trabalho e o contexto sócio-educativo.
...
De outro lado, há o baixo nível educacional, as condições de ensino ruins, a suspeita da sociedade
em relação ao profissionalismo dos professores. Esses fatores têm grande impacto emocional, já
que os educadores estão imersos e implicados nesse contexto. Quero deixar claro que não estamos fazendo apologia ao professor coitadinho, bonzinho e romântico. Estamos apenas chamando a atenção para uma outra dimensão do trabalho, que muitas vezes é deixada de lado.
SE: Que fatores são mais decisivos para o desencadeamento de crises dos professores com a profissão?
MTP: Críticas permanentes sobre o nível educacional, cobranças e exigências excessivas são algumas das coisas que abalam os professores emocionalmente. Sem contar que o debate sobre as carências da educação escolar leva ao descrédito dos professores. Quando isso acontece, envia-se para eles uma mensagem de desconfiança. Desse modo, é de se esperar que os docentes fiquem com a autoestima baixa, insatisfeitos com eles mesmos e com o trabalho que desenvolvem. Não estamos querendo dizer que não se deve mostrar a situação da educação, que realmente é dramática. Mas que outros enfoques precisam ser adotados para não responsabilizar os professores por um problema que é de todos nós. Eles não são os únicos responsáveis.
SE: Em geral, os dados apontam muitas diferenças entre os valores e emoções dos professores
de escolas públicas e dos de escolas privadas?
MTP: Acho que sim. Mas existem vários pontos em que não há uma diferenciação ou que a diferenciação é muito pequena. Acredito que grandes diferenças de percepção dos professores acontecem devido às condições inferiores da rede pública, tanto no que se refere ao aspecto físico, de infra-estrutura, como no de exigência por parte dos gestores das escolas e da comunidade. Isso interfere diretamente na relação do professor com o trabalho. Nas escolas particulares, o grau de exigência com os professores é maior, e a infra-estrutura e as condições de ensino são melhores que na rede pública.
SE: De que forma o estudo contribui para a formulação de políticas de educação e para servir
de referência aos gestores educacionais?
MTP: Acho que a pesquisa humaniza o professor. Ele não é só um ser abstrato ou que pratica um ensino ruim nos nossos alunos, como os jornais e a imprensa, em geral, dizem. A pesquisa mostra um lado mais humano dos professores – o que eles sentem, do que eles gostam na profissão, o que eles querem continuar aprendendo. A pesquisa também mostra que há uma brecha de investimento nessa questão do conhecimento. É preciso que os professores entendam que o ensino, tanto quanto a manutenção de boas relações, é fundamental.
"A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria."
Paulo Freire
"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." Paulo Freire
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