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"É preciso encontrar o tão sonhado meio termo ensinado por Aristóteles. Sem exageros, e com serenidade, as escolhas podem ser decididas conjuntamente. As habilidades vão se desenvolvendo a partir de estudos e de brincadeiras, de cursos e de ócio. Tudo em família."
O exagero que não educa
Pais explicam aos filhos que não exagerem na comida. Faz mal. Que não exagerem no banho. É contra o meio ambiente. Que não exagerem no tempo gasto na internet. Precisamos de relações reais. Não somos máquinas. Que não exagerem nas brincadeiras ou na bebida ou nas baladas e assim por diante.
Filhos poderiam também dizer aos pais que não exagerem nas cobranças. Criança precisa ser criança. Precisa brincar como criança. Correr como criança. Errar como criança. É um exagero exigir que uma criança tenha agenda lotada com todo o tipo de atividade que, muitas vezes, o pai ou a mãe não conseguiram ter.
O pai obeso quer que o filho seja um atleta e lamenta o fato de o seu pai não ter feito o mesmo com ele. Aulas de judô, tênis, natação, alongamento, yoga, musculação adaptada para criança, entre outros.
A mãe com dificuldade em outro idioma quer que o filho aprenda ao mesmo tempo inglês, espanhol, francês e, se possível, alemão e mandarim. E justifica dizendo que, nessa fase, há mais facilidade para o aprendizado de outro idioma.
O pai quer que o filho aprenda a tocar um ou mais instrumento musical. A arte é muito importante. Piano e violão são o básico. Quem sabe aprenda esses dois e mais violino e harpa. Harpa é bem interessante.
A mãe acha que para o filho se desinibir desde cedo é bom ter aulas de teatro e canto. Isso ajuda a conviver melhor e a conseguir desenvolver a oratória, tão essencial para os nossos dias.
E com todas essas atividades, é preciso encontrar tempo para terapias, as tradicionais e as alternativas para que os filhos vençam o estresse.
Enquanto isso, os pais brigam exageradamente, trabalham exageradamente, reclamam exageradamente da vida, da sorte, da condição de casado, dos filhos que dão trabalho. E o tempo passa.
O tempo da convivência vai se perdendo em exageros tantos. A infância vira uma fase de preparação para o sucesso, a adolescência também, e a juventude nem se fala. As cobranças vão trazendo uma carga absolutamente desnecessária.
E o lazer? E o entretenimento? E as conversas sem finalidade? E as brincadeiras em família? E a contação de histórias?
Brincar o dia inteiro e não estudar é tão exagerado quanto estudar o dia inteiro e não brincar.
Ficar ao computador ou em frente à televisão o dia inteiro comendo é tão exagerado quanto não sair da academia ou do clube.
É preciso encontrar o tão sonhado meio termo ensinado por Aristóteles. Sem exageros, e com serenidade, as escolhas podem ser decididas conjuntamente. As habilidades vão se desenvolvendo a partir de estudos e de brincadeiras, de cursos e de ócio. Tudo em família.
A vida tem que ser vivida intensamente em cada instante. Não viver o hoje porque o hoje é apenas uma preparação para o amanhã; um amanhã que nem sei se vai existir, é um grande exagero!
Texto publicado na edição de janeiro de 2011 da revista Profissão Mestre.
Gabriel Chalita
Pais explicam aos filhos que não exagerem na comida. Faz mal. Que não exagerem no banho. É contra o meio ambiente. Que não exagerem no tempo gasto na internet. Precisamos de relações reais. Não somos máquinas. Que não exagerem nas brincadeiras ou na bebida ou nas baladas e assim por diante.
Filhos poderiam também dizer aos pais que não exagerem nas cobranças. Criança precisa ser criança. Precisa brincar como criança. Correr como criança. Errar como criança. É um exagero exigir que uma criança tenha agenda lotada com todo o tipo de atividade que, muitas vezes, o pai ou a mãe não conseguiram ter.
O pai obeso quer que o filho seja um atleta e lamenta o fato de o seu pai não ter feito o mesmo com ele. Aulas de judô, tênis, natação, alongamento, yoga, musculação adaptada para criança, entre outros.
A mãe com dificuldade em outro idioma quer que o filho aprenda ao mesmo tempo inglês, espanhol, francês e, se possível, alemão e mandarim. E justifica dizendo que, nessa fase, há mais facilidade para o aprendizado de outro idioma.
O pai quer que o filho aprenda a tocar um ou mais instrumento musical. A arte é muito importante. Piano e violão são o básico. Quem sabe aprenda esses dois e mais violino e harpa. Harpa é bem interessante.
A mãe acha que para o filho se desinibir desde cedo é bom ter aulas de teatro e canto. Isso ajuda a conviver melhor e a conseguir desenvolver a oratória, tão essencial para os nossos dias.
E com todas essas atividades, é preciso encontrar tempo para terapias, as tradicionais e as alternativas para que os filhos vençam o estresse.
Enquanto isso, os pais brigam exageradamente, trabalham exageradamente, reclamam exageradamente da vida, da sorte, da condição de casado, dos filhos que dão trabalho. E o tempo passa.
O tempo da convivência vai se perdendo em exageros tantos. A infância vira uma fase de preparação para o sucesso, a adolescência também, e a juventude nem se fala. As cobranças vão trazendo uma carga absolutamente desnecessária.
E o lazer? E o entretenimento? E as conversas sem finalidade? E as brincadeiras em família? E a contação de histórias?
Brincar o dia inteiro e não estudar é tão exagerado quanto estudar o dia inteiro e não brincar.
Ficar ao computador ou em frente à televisão o dia inteiro comendo é tão exagerado quanto não sair da academia ou do clube.
É preciso encontrar o tão sonhado meio termo ensinado por Aristóteles. Sem exageros, e com serenidade, as escolhas podem ser decididas conjuntamente. As habilidades vão se desenvolvendo a partir de estudos e de brincadeiras, de cursos e de ócio. Tudo em família.
A vida tem que ser vivida intensamente em cada instante. Não viver o hoje porque o hoje é apenas uma preparação para o amanhã; um amanhã que nem sei se vai existir, é um grande exagero!
Texto publicado na edição de janeiro de 2011 da revista Profissão Mestre.
Gabriel Chalita é deputado federal, doutor em Direito e em Comunicação e Semiótica, ex-secretário de Educação de São Paulo.
http://profissaomestre.com.br/php/verMateria.php?cod=5632
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