terça-feira, 27 de julho de 2010

Renascidos, em Recrescimento... CRIANÇAS.

"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos."

Norman Cuisins
Entre tantos artigos que recebo do amigo e Dr. Fernando Cavalcanti, este em particular, me chamou atenção, afinal, como professora infantil estou sempre em companhia das crianças... Crianças enclausuradas pelos muros, crianças sem muros, também enclausuradas...

Renascidos, em Recrescimento... CRIANÇAS...

" Sinto-me, de fato, muito só neste mundo."


Crianças

Muros são estruturas que limitam.

Nasci já à época dos muros.

Mesmo nos idos ’60 lá estavam eles a separar. Ainda que os homens desta cidade não se matassem como hoje, nem os abismos entre eles fossem tão profundos e largos como hoje, existiam os muros para nos repelir.

Com o tempo eles se multiplicaram, ganharam altura. Ficamos ainda mais desconhecidos, mais temerosos. Isso acontecia como conseqüência do progresso, diziam.

Nós, as crianças, nos divertíamos neles subindo e pulando para a zona proibida. Era um desafio de crianças. Escalar e pular o muro que nos impedia de ser crianças nos excitava ao extremo. Não nos conformávamos com os muros, com os portões, com as grades. Queríamos, em calções e pés descalços, ganhar o mundo, as casas, os terrenos baldios, as piscinas dos vizinhos, a goiabeira do quintal alheio. (Era no tempo dos quintais). Não havia limites para nós, crianças imortais e destemidas.

Correr com todas as forças, a plenos e limpos pulmões, por quanto tempo fosse necessário, nos impelia com coragem às mais perigosas e palpitantes missões. Caso empreender fuga sob a mais nítida ameaça fosse uma necessidade imperiosa, o fazíamos com um sorriso aberto e uma força imensa e não extenuante. Não tínhamos limites. Éramos deuses, cheios de vontade de vida.

Crescemos.

Os muros também cresceram. Cresceu nosso medo. Nossa vontade de vida arrefeceu. Com efeito, não decresceu a vontade de vida; arrefeceu, sim, nossa coragem, nossa energia. A vida, a mesma que nos excitara a vontade de si, passou a nos golpear incessantemente. À medida que crescíamos perdíamos as formas de criança e nosso aspecto se tornou ameaçador para alguém. Descobrimos, então, que o que fazíamos impunemente, porquanto nossa pureza nos fazia inimputáveis, não nos era mais possível fazer. Ainda que guardássemos bem à vista na alma, não se conseguia vislumbrar em nós nossa ludicidade, a criança que ainda existia em nós.

Então, morremos. Tornamo-nos outro alguém. Nem vale a pena enveredar por constatações tão chocantes e tristes. Voltemos às crianças que éramos.

Não; façamos melhor – descrevamos o processo de descrescimento. O descrescimento é um conjunto de decisões que dão o revertério. Não é um fenômeno biológico. É uma trama urdida nas ferventes confusões da alma, após um cansaço enorme, alguma sabedoria e doses cavalares de resignação. Descrescer não é parar de crescer; é uma espécie de purgação, de limpeza. É olhar os muros e não se intimidar com sua altura, com os limites impostos. É voltar a ser uma criança por decisão própria, com as enormes vantagens da inexorável sabedoria. É ser uma criança grande, um crianção.

Se o homem nasce, cresce, se reproduz e morre, só me restava morrer. Sim, é a única coisa que me restava. Não conformado, resolvi descrescer. De quebra havia ainda a possibilidade de meu renascimento. Como não há no Aurélio o verbo descrescer, talvez fosse mais certo usar o verbo recrescer, este, sim, existente.

O que quero dizer é que resolvi recrescer, e para tanto, renasci. Comecei a renascer quando resolvi me desmontar. O desmonte foi uma morte, sem dúvida. Reparem, então, que estão diante de alguém que já morreu.

Foi simples. Certo dia, uma linda manhã de sol, acordei triste, pesado, a cabeça doendo, sem tesão. Olhei pela janela e vi o vai-e-vem da cidade, as pessoas correndo, o trânsito movimentado – ainda não era como hoje – o céu tão azul que parecia um jardim de uma cor só. Pensei: -“Morri.” E ali mesmo, com a janela aberta para o mundo, deixei de existir. O diabo é que, se se morre em vida, não há outra saída que não o renascimento. Só morre em vida quem quer ainda muito viver. E, no mesmo instante, ali mesmo, com a janela escancarada para o jardim de uma cor só, renasci. Foi mesmo muito simples.

Desde então voltei a pular muros. Hoje é bem mais difícil; pode-se ser alvejado com uma bala certeira. Ainda assim pulo uma enormidade deles. Entro e saio do vizinho num piscar de olhos. As casas são poucas aos dias de hoje, de modo que os quintais com goiabeiras, sirigüelas e limoeiros são uma coisa rara; mas ainda os encontro vez ou outra. Outro dia quase me morde um enorme pastor alemão sentinela.

O que muito me faz falta é a companhia de outras crianças renascidas como eu. Brinco sozinho o tempo inteiro porque não há amiguinhos com quem brincar. Sinto-me, de fato, muito só neste mundo. Ainda me resta a esperança de que encontrarei alguém morto, renascido, em recrescimento. Anelo encontrá-lo em breve.


Fernando Cavalcanti, 01.07.2010

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